sexta-feira, 30 de março de 2012

Uma fortaleza, será?

-Nunca fui de fazer corpo mole em nada em minha vida, e da mesma forma continuei agindo assim com meu problema de saúde. Não querer pena de ninguém, ser sempre forte e guerreira nas dificuldades, me ajudou a encarar o câncer de frente. Mas, acho que essas “QUALIDADES” se viraram contra mim. Meu jeito de vestir mesmo sendo ostomizada, a minha fé, os cabelos em minha cabeça, a forma de como eu lido diante de tanta provação, fizeram as pessoas pensarem que tudo é fácil, mais volto a dizer, as coisas não são bem assim não!

-Como pode ser fácil, uma mulher, gozando de plena saúde física, aos 35 anos entrar em um hospital com dores, achando que seria um apêndice estrangulado, e 15 dias depois sair com um diagnóstico de câncer de intestino, usando uma bolsa pendurada em sua barriga? Não poder engravidar mais. Como pode ser fácil ter de fazer tratamentos de quimioterapia, radioterapia há mais de quatros anos e ser sempre positiva, como? Eu digo a vocês! Não é nada fácil, mais eu tinha a opção de me fazer de coitadinha ou levantar e lutar por minha vida. Eu escolhi por minha vida.

-Filhos nunca foi meu projeto de vida, eu pensava em ter filho depois que eu estivesse em uma situação financeira melhor e de preferencia, com uma pessoa ao meu lado. Mais, uma coisa é você adiar um projeto e outra coisa bem diferente é você não poder mais, é não ter mais o direito de escolha. Hoje sou muito bem resolvida quando o assunto é filhos, apesar de algumas pessoas acharem que sou frustrada por conta disso. Outra coisa que muita gente pensa e por minha culpa mesmo, é que usar uma bolsa de colostomia é a coisa mais normal e fácil do mundo...POIS SAIBAM QUE NÃO É...nunca me achei uma mulher bonita, mais eu tinha um corpo legal, uma barriga bonita. Mais, hoje tenho uma vida limitada, passo algumas vezes por situações constrangedoras, e quando isso acontece, volto pra casa arrasada, chorando, e me sentindo diferente das outras pessoas. A barriga não é mais bonita como antes. Nada mais é como antes.

-Talvez um ou outro estranhem tudo isso que estou falando, porque sempre me calei diante de minhas tristezas, de meus choros, de minhas angustias, de meus medos. Sinto decepciona-los, mais estou decepcionada também, a mulher maravilha aqui está cansada de ser forte e o mais triste nisso tudo é de não saber mais em quem confiar. Se eu falo a verdade sou vista como ingrata, então acho que o mais correto a fazer em algumas situações é aceitar as mentiras. Minhas palavras não fazem sentido pra você? Um dia quem sabe eu explico melhor.
-O que eu queria expressar nesse meu texto, é que agora tenho a certeza de que a única pessoa com quem eu posso contar é comigo mesmo, só eu sei como é complicado minha vida, só eu sinto na pele, então tenho todo o direito de me revoltar as vezes. O que vou fazer com as pessoas em que eu não confio? ME AFASTAR!!! O resto é consequência.

quarta-feira, 28 de março de 2012

A felicidade está nas pequenas ações.

-Meu dia ontem começou um pouco mais cedo que habitual, fui resolver um problema com minha mãe. No caminho de volta paramos na casa de uma tia minha, conversamos um pouco, meu telefone toca, era Junior um grande amigo meu.

-Junior foi meu namorado e por duas vezes, isso mesmo, duas vezes! Nos conhecemos no ano de 2000, namoramos por um tempinho, mais logo após terminamos, perdi contato, mais uma vez ou outra ele me ligava pra saber como eu estava ou eu ligava. Ele era e é até hoje uma pessoa muito boa, bom filho, e voces sabem...bom filho, bom marido, mais eu não queria muito saber dessas coisas,e hoje a vida dele bem como a minha é bem diferente. Namoramos pela segunda vez em 2004, e mais uma vez não deu certo, desta vez por minha causa. Nos reencontramos, em uma época em que eu estava...digamos...querendo só curtição. Tinha comprado meu primeiro carro, vivia na praia, e saia muito com minhas amigas Girlene e Rozana. Mesmo assim, começamos a namorar, brigávamos muito, sempre por ciúmes dele ou meu. Nesse tempo ele bebia e eu também, de vez em quando eu pegava algumas mentiras dele...rsrs...até hoje ele nega.

-Bom mais o que eu estou querendo falar mesmo é que ele foi uma pessoa ao qual anos depois eu pedi desculpas por tê-lo magoado. O final de nosso namoro foi bem agitado, eu não tinha coragem de terminar, então passei a fazer todas a s coisas que ele não gostava...tipo...sair pra algum canto e não avisar, ele ligava eu não atendia, e aos domingos quando ele me ligava eu já estava no golfinho lá no bessa. Então chegou uma hora que ele chegou em minha casa e terminou comigo, ele me disse que eu estava tão acostumada a estar só que eu não sabia mais o que era ter um namorado...ele tinha razão! Ele saiu da minha casa sem olhar pra trás, mais depois me mandou um torpedo falando algumas coisas e falou uma frase que até hoje eu lembro. Ele disse: um dia você irá lembrar deste momento, que eu iria de lembrar de um Junior( acho que foi mais ou menos assim).

-Depois eu adoeci, não sei bem como ele soube que eu estava internada, acho que ele ligou pro meu celular e alguém contou. Junior não foi me visitar quando eu cheguei em casa, mas ele ligava todo dia, depois eu soube que ele não tinha ido porque tinha ficado bem abalado com minha situação. Dias depois, quando eu estava mais recuperada ele veio em minha casa com a mãe dele. Hoje ele está casado, pai de um menino lindo, e é quase pastor ( tem uma vida nova). Nosso contato diminuiu bastante depois que ele passou a ser presbítero, mais sempre que pode ele me liga. Falar com Junior me deixa tranquila, gosto de conversar sobre Deus, Biblia, e sobre tudo isso que me aconteceu,(tenho muito carinho por esse moço viu). Contei sobre o resultado de meu ultimo exame, e percebi a felicidade em sua voz. Terminei a conversa e desliguei meu celular. Fiquei feliz com a ligação dele!

-Pela tarde fui a clinica fazer minha radioterapia, chegando na recepção vi uma senhora chorando, ela se chamava Célia, e tinha acabado de receber um resultado confirmando que ela estava doente mais uma vez. Fiquei na dúvida se iria ou não falar com ela (tem pessoas que não querem falar sobre o câmcer), mas terminei indo. Me apresentei, disse a ela que não chorasse pois Deus estava no controle, contei minha historia de uma forma resumida (porque a historia é grande), quase uma hora de testemunho, ao sair ela me deu um abraço, e já não chorava mais, estava bem mais calma. Entrei no meu carro feliz da vida, liguei o som bem alto e vim cantando até minha casa com o sentimento de dever cumprido.

-Não precisa acontecer uma coisa grandiosa pra deixar uma pessoa feliz, basta apenas um telefonema de um amigo querido ou contar um testemunho de vida como o meu para uma pessoa que precisava ouvir naquele momento complicado, apenas algumas palavras que fizesse ela sentir vontade de lutar pela sua cura.

Neidja Maria

Bicho-papão II

-Da forma como eu falo do câncer, muitos de vocês devem pensar que minha vida é fácil. Não sinto as terríveis reações que a maioria das outras pessoas em tratamento sentem, estou bem fisicamente e psicologicamente, e meus cabelos estão todos em minha cabeça, mais não é bem assim não!!

-Como falei no texto anterior, na segunda vez que eu fiz quimioterapia eu passava internada três dias...três longos dias minha gente!!! Eu me internava no Laureano na segunda-feira e saia só na quarta-feira, o tratamento foi por seis meses. No inicio tudo era novo pra mim, eu tentava manter um equilíbrio mental, mais a medida que os dias se passavam comecei a ficar impaciente, via televisão pra me acalmar, não adiantava muito não. Meu quarto era fechado sem janelas abertas por causa do ar condicionado. a comida no inicio, apesar de ser de hospital, sem tempero nenhum, não era tão ruim, mais após seis meses o bicho pega.

-Comecei a enjoar o cheiro de uma sopa que vinha pra jantar, tomei essa sopa umas duas vezes, depois não deu mais. Em uma noite que o jantar chegou eu tive a maior boa vontade, mais quando corrinha abril essa bendita sopa, e eu senti o cheiro tomar conta do meu quarto, foi automático. Imaginem minha agonia, pedi a corrinha que sumisse com essa sopa, mais antes me ajudasse a levantar e me levasse até o banheiro, e adivinham? Vomitei tudo que eu tinha comido durante o dia!!! No outro dia falei com meu médico (segundo ele essa reação era totalmente normal, existem pessoas que enjoava com o cheiro do desinfetante que fazia a limpeza do quarto) e com a nutricionista do hospital, eu tinha de comer, mais só em pensar no cheiro da sopa até hoje me enjoa. Então, após esse episódio minha comida vinha de minha casa, menos o café da manhã, esse dava pra comer porque era mais fruta e biscoitos, o restante era tudo de casa.

-Talvez para algumas pessoas, isso que eu tive pode ser considerado como: chilique, frescura, psicológico e até má vontade. Eu soube até que teve pessoas (prefiro não falar o nome) que tiveram a capacidade de comentar que eu estava numa vida boa, como se eu tivesse não em um hospital fazendo tratamento quimioterápico, mais como se eu tivesse em um hotel. Nunca fui de dá atenção ao que as pessoas falavam de mim, mais tem coisa que me deixam magoada, que me deixa triste. Ninguém sabe o que eu venho passando todo esse tempo, alguns de meus amigos e familiares sabem por alto, mais quem sente isso na pele sou eu e mais ninguém.

-É direito meu falar o que me deixa ruim, independente do que as pessoas pensam ou não...PROBLEMA DESSAS PESSOAS...eu vou fazer o que for melhor pra mim, qualquer coisa que faça eu me sentir bem em relação a algumas reações quimioterápicas, mesmo que seja deixar de tomar apenas uma sopa que me cause enjoo.


Neidja Maria

terça-feira, 27 de março de 2012

Bicho-papão

-Ouvi falar muitas coisas dos tratamentos para cura do câncer, coisas que no inicio de deixaram nervosa e com medo. Saí de casa pra minha primeira consulta com Dr. Jean, convicta de que eu iria perder meus cabelos, sentir enjoos, diarreia,falta de apetite, etc(coisa que não aconteceu) mais o principal e o mais importante seria fazer o tratamento para conseguir minha cura, o resto é consequência.

-Chegando ao consultório, meu oncologista me explicou como seria a medicação, verificou meu peso e altura, e disse quais reações eu poderia vim a sentir, e que a única coisa que não iria acontecer seria a perda de cabelo. Chorei muito ao ouvir essas palavras “SEUS CABELOS NÃO VÃO CAIR”, por que você está chorando Neidja? Respondi sem pensar, pra minha irmã, porque não vou ficar sem cabelo. Na verdade em todo meu tratamento realmente nunca fiquei careca, mais após iniciar meu ciclo de quimioterapia, estava eu tomando banho e resolvi lavar minha cabeça, tô eu lá passando champool feliz da vida, mais quando fui pro chuveiro levei o maior susto. Quando a água bateu em mim foi cabelo com força em cima de mim, no chão, em minhas mãos, fiquei desesperada com aquela situação, fiquei triste. Depois essa queda parou, segundo o médico deveria ser por conta da situação que eu passei no Cti.

-Foram vários ciclos de quimioterapia, o primeiro eu fazia toda semana. Uma sala com algumas cadeiras do papai, apenas uma televisão, e um banheiro para homens e mulheres ( pelo SUS não tinha muito luxo não), legal né? Ouvi muitas historias de outros pacientes, geralmente historia triste...então...eu colocava meu velho fone de ouvido e ficava ouvindo música, para não absorver pensamentos ruins. Nessa fase o psicológico conta muiiito!!! Da segunda quimioterapia em diante, já com a cobertura de meu plano de saúde eu ficava internada três dias, deitada e ligada a uma máquina chamada bomba de infusão, (era a única hora em que eu me sentia doente) ela serve para controlar o gotejamento da medicação no organismo e que só me permitia ir ao banheiro e voltar. Já na terceira vez que fiz quimio, a coisa melhorou um pouco, a clinica de meu médico tinha ficado pronta e eu iria continuar meu tratamento lá. Achei ótimo, eu precisava dá um tempo no Laureano, ficar um pouco longe de tudo aquilo, lá você houve muita coisa, vê muita coisa. Coisas que ao longo de várias anos de convivência ali, começavam a me desestabilizar.

-Na clinica tudo era diferente, só em não está em um ambiente hospitalar, tudo já melhorava. Outra coisa que me ajudou muito, foi poder tomar quimioterapia em casa, eu voltava pra clinica só pra retirada da medicação em meu cateter. Lá fiz ótimas amizades, as meninas da recepção bem como as enfermeiras, todas com um carinho enorme por mim. Obrigado Karina, Verônica, Erika e Marilia, vocês são ótimas!!!!

-Agora estou fazendo radioterapia, ouvi coisas terríveis desse tratamento, mais tem sido muito tranquilo. Tirando também o fato de ser uma coisa nova, contato com atendentes novas...isso implica dizer que lá vai eu explicar tudo de novo e responder as mesmas perguntas...você vai ficar com colostomia definitiva? Deve ser ruim não é? Que saco!! Bonito não é, mais vou fazer o que? Então vamos lá de volta a radioterapia. Deito na cama levantam meu vestido, calcinha baixada, câmeras te filmando pelada (outra coisa que me deixa com muita vergonha) e a radio começa. Cindo minutos apenas, rápido não é? Eu imaginava uma coisa de outro mundo...tipo...sair um raio da máquina que me queimava, mais não, é um processo totalmente tranquilo e indolor. Todos os meus procedimentos foram grandes, cirurgias enormes, dores, infecções, e ainda tinha os exames que eu costumo falar assim...só aparece exame chuchu pra eu fazer...kkkk...como tomografias, ressonância, colonoscopia, e tantos outros bem constrangedores. Serão 28 sessões diárias de radio, hoje fiz a quarta, e vamos que vamos. Não reclamo, apenas faço a minha parte, e o resto deixo nas mãos de Deus. Há! o bicho-papão da quimioterapia e radioterapia não são tão terríveis assim, digamos que seja um bicho não tão grande mais necessário para eu atingir minha tão esperada cura. Se eu tenho medo? Logico que sim! Sou humana não é? Só não deixo esse medo tomar conta de mim.

Neidja Maria

segunda-feira, 26 de março de 2012

Hospital Napoleão Laureano

-Fiz esse blog para mostrar meu romantismo, as músicas que gosto, poemas, tudo que falasse de amor. Mas, a partir de hoje vou postar algumas coisas sobre meu problema de saúde, não que eu deva nada a ninguém, mais para que outras pessoas possam se fortalecer com meu testemunho.

-Hoje fui ao Laureano ( hospital de referencia na cura e tratamento de câncer) dá entrada pelo SUS em minha medicação oral de quimioterapia, fazia anos que eu não andava por essa área do hospital, e em quanto eu andava pelos corredores pude perceber que pouca coisa mudou.

-Passar por esses corredores meu trouxe muitas lembranças, parecia que eu estava vendo um filme em minha mente. Em 2007 eu adoeci de um Câncer de intestino, que quase me tirou a vida, fui operada de urgência em outro hospital público com uma oclusão intestinal, você sabe o que isso? Vou explicar!!! O Câncer perfurou meu intestino e tomou conta de tudo meu organismo. Por conta disso, foram 15 dias internada sendo 10 dias só de CTI...morre mais não morre. Pela graça de Deus eu estou viva, e há mais de quatro anos venho lutando por minha vida. No total foram quatro cirurgias sendo uma pra reconstrução de meu intestino e deixar de ser ostomozada. Vou explicar também que palavra é essa.

-A ostomia é uma cirurgia para construção de um novo trajeto para saída das fezes ou da urina. Essa intervenção cirúrgica pode ser usada para criar uma abertura de eliminação das fezes, chama de ostomia digestiva, ou da urina, conhecida como ostomia urinária.

-A abertura feita na parede abdominal é a ostoma e torna-se necessária quando o paciente sofre alguma perfuração no abdômen ou em casos de câncer no reto, intestino grosso ou na bexiga. Ferimentos ou anormalidades congênitas que impedem o funcionamento normal da bexiga também tornam necessária a realização de uma ostomia urinária.

-Como essa abertura não pode ser controlada voluntariamente, pacientes ostomizados precisam utilizar uma bolsa que recolhe o conteúdo eliminado. Isso faz com que o indivíduo precise se adaptar à nova condição, mas com a ajuda de profissionais especializados e tomando os cuidados necessários, em pouco tempo o paciente volta a levar uma vida normal.

-Em dezembro de 2007 (não me recordo o dia certo) fui a minha primeira consulta com meu médico oncologista (Dr.Jean Fabricio). Muito magrinha e cansada, acordei ás cinco da manhã pra podermos chegar cedo e voltar cedo (é gente sem plano de saúde é assim mesmo né?). De lá pra cá, não mudou muita coisa não...muita gente esperando pra ser atendida, pessoas idosas, jovens, branco, preto, muitos carecas outros não, mais todos em busca da mesma coisa, sua cura.

-Pessoas em macas nos corredores bem debilitados, e eu ali, agora sendo mais um na multidão. Em janeiro de 2008 dei inicio ao meu tratamento de quimioterapia. Não sou melhor que ninguém, nem me acho a mulher maravilha, mais resolvi lutar por minha cura desde o primeiro instante que eu descobri que estava com Câncer. Uma doença que mata? Pode ser! Mais isso não quer dizer que estamos condenados a morte. A medicina está cada dia mais avançada, existem vários tratamentos, medicações que não causa as tão temidas reações como: enjoo, perda de cabelos, falta de apetite, etc.

-Agora voltando ao ponto de partida, e vendo todas estas pessoas novamente. As lembraças voltam a minha mente, ao longo de todo esse tempo, consegui fazer amizades no Laureano, amizades que duram até hoje, esse é o lado bom da doença, ela te proporciona conhecer pessoas que vai dá enfermeira chefe as pessoas que fazem a limpeza e que estão ali contigo no dia a dia e passam a fazer parte de nossas vidas. Me sinto uma pessoa privilegiada, não por hoje ter plano de saúde, e por conta disso ter uma “certa condição melhor de tratamento” mais por está viva, bem fisicamente, apesar de estar em tratamento quimioterápico e pela terceira vez. Eu tenho Câncer, mais ele não me tem.