sábado, 3 de setembro de 2011

O que levaremos desse mundo?

Uma lenda muita antiga relata que havia um Rei no Oriente Médio que tinha 4 esposas. A 4º esposa, ou seja, a última com quem havia casado, por ser a mais jovem, o Rei a amava demais. Ela exigia presentes caros, lindas jóias e roupas finas e o Rei dava-lhe tudo sem hesitar. Ele também gostava muito de sua 3º esposa e tinha prazer em exibi-la aos reinados vizinhos. Contudo, ele tinha medo que um dia, ela o deixasse por outro Rei, pois não tinha plena confiança nela. O Rei também admirava sua 2º esposa que sempre foi amável e paciente com ele. A primeira esposa lhe dera 3 filhos e sempre que o Rei tinha que enfrentar um problema, ele confiava nela, para atravessar tempos de dificuldade. A 1º esposa era a mais velha, mas a mais dedicada. Ela fazia tudo que estava ao seu alcance, mas o Rei não a amava mais e mal tomava conhecimento dela. Só a procurava em tempos difíceis.

Certo dia, o Rei ficou extremamente doente e pressentiu que a morte poderia chegar a qualquer instante. Ele pensou em toda as suas mulheres e ponderou: "Hoje, tenho 4 esposas, mas quando morrer, ficarei sozinho e desamparado". Imediatamente chamou a 4º esposa e disse: "Eu te amei tanto querida e te cobri das mais finas roupas e jóias. Demonstrei com presentes o quanto eu te amava, cuidando bem de você... agora que eu estou morrendo... você é capaz de morrer comigo, para não me deixar sozinho?". A bela jovem respondeu: "De jeito nenhum eu tenho mais o que fazer" e saiu do quarto do enfermo sem sequer olhar para trás. A resposta que ela deu cortou o coração do Rei como se fosse uma faca afiada. Triste, o enfermo então chamou a 3º esposa: "Eu sempre te amei e realizei todos os seus desejos. Agora que estou morrendo, você é capaz de morrer comigo, para não me deixar sozinho?". A 3º esposa retrucou sem hesitar: "Jamais eu morreria por você. A vida é boa demais! Quando você se for, eu vou é casar de novo, pois já tenho pretendente". O coração do Rei sangrou e gelou de tanta dor. Ato contínuo chamou à 2º esposa e indagou: "Você sempre esteve ao meu lado me fazendo companhia. Quando eu morrer... você será capaz de morrer comigo, para me fazer companhia?". Com olhar de piedade a segunda esposa disse: "Sempre estive ao seu lado e te respeitei muito, mas o máximo que posso fazer é enterrar você". Essa resposta veio como um trovão na cabeça do Rei que começou a chorar. Repentinamente uma voz se fez ouvir no canto do quarto: "Eu partirei com você e o seguirei para onde você for meu amor". O Rei levantou os olhos e lá estava sua primeira esposa com rugas que marcavam sua face em razão do desprezo do marido. Ela estava magra, mal vestida e com ar sofrido. Com o coração partido o Rei falou: "Eu deveria ter cuidado muito melhor de você, enquanto eu podia...".

Creio que o amigo leitor deva ter suspirado um pouco ao ler esse relato. Agora, peco que reflita sobre as colocações a seguir. Todos nós temos 4 esposas na vida. A 4º esposa é o nosso corpo. Apesar de todos os esforços que fazemos para mantê-lo saudável e bonito ele nos deixará, quando morrermos. Nossa 3º esposa são as nossas posses, as nossas propriedades, a nossa riqueza. Quando morremos, tudo isso vai para os outros e as vezes gera brigas e separações na família. Nossa segunda esposa são nossa família e nossos amigos. Apesar de nos amarem muito e estarem sempre nos apoiando, o máximo que eles podem fazer, é nos enterrar. Por último, vem a nossa primeira esposa que é a nossa ALMA, muitas vezes deixada de lado em troca da busca desenfreada pela riqueza, poder, cobiça inveja... Apesar de tudo, nossa ALMA é a única coisa que irá conosco, não importa para onde formos. Durante uma festa em uma fazenda o dono bradou: "Toda a terra que seus olhos podem ver são de minha propriedade. Esses 4 rapazes que estão ao meu lado são meus filhos". Um sábio ouviu tal declaração e pensou: "Pobre homem, que não entende que nem de si mesmo ele é dono. Na verdade, jamais possuímos as coisas. Apenas a retemos por algum tempo. Se somos incapazes de nos desfazermos delas, somos dominados por elas. Seja o que for que valorizemos, deve ser conservado na palma da mão, como conservamos a água. A pessoa que tem como meta acumular coisas é porque esta com o coração vazio". Espiritualidade não é saber o que se quer, mas sim entender do que não se precisa. Aqueles que estão contentes com pouco, são ricos como reis. O próprio rei é um mendigo, quando seu reino não lhe basta. Na verdade, amigo leitor, a mente humana faz tolas divisões naquilo que o amor vê como um todo.

Autor: Jorge Lordello

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